O tema Espiritualidade tem ganhado cada vez mais espaços nas discussões acadêmicas em todo o mundo e tem sido objeto de investigações científicas em grandes centros de pesquisa. Isso se deve ao fato de ter sido apontada como uma importante dimensão da saúde mental, sendo associada a melhores resultados em vários indicadores, incluindo redução do risco de suicídio. Estudos têm mostrado que a religiosidade intrínseca e a espiritualidade podem ter um efeito protetor em relação ao suicídio, reduzindo as taxas de tentativas e pensamentos suicidas em diferentes populações.
Uma revisão sistemática da literatura realizada por Lucchetti e colaboradores (2012) encontrou uma relação positiva entre espiritualidade e saúde mental, incluindo redução do estresse, ansiedade e depressão. Os autores sugerem que a espiritualidade pode ajudar as pessoas a encontrar um sentido de propósito e significado na vida, fornece suporte social e oferecer estratégias de coping para lidar com eventos estressantes.
Um estudo realizado por Niu e colaboradores (2020) com adultos chineses encontrou que a religiosidade e a espiritualidade foram associadas a menor risco de ideação suicida, sugerindo que essas dimensões podem ter um efeito protetor contra o suicídio. Outro estudo conduzido por Koenig e colaboradores (2012) com pacientes hospitalizados por transtornos mentais graves encontrou que a religiosidade estava associada a menor risco de tentativas de suicídio.
Alguns mecanismos propostos para explicar a relação entre espiritualidade e saúde mental incluem a redução do estresse e da ansiedade, a melhora da autoestima, o fornecimento de suporte social e o desenvolvimento de estratégias de coping positivas. Além disso, a espiritualidade pode oferecer um senso de propósito e significado na vida, ajudando as pessoas a lidar com eventos difíceis e a encontrar esperança e otimismo para o futuro.
Embora a espiritualidade possa ter efeitos positivos na saúde mental, alguns estudos sugerem que pode haver também efeitos negativos. Uma revisão sistemática realizada por Peltzer e colaboradores (2018) encontrou uma associação entre religiosidade extrinseca e piores resultados em indicadores de saúde mental, incluindo maior prevalência de depressão e ansiedade. Há também trabalhos que sugerem que a religiosidade extrínseca pode levar a uma maior rigidez cognitiva e a uma redução da autonomia e liberdade individual, o que pode prejudicar a saúde mental. Além disso, alguns aspectos da religiosidade, como crenças rígidas ou fanáticas, podem levar a comportamentos prejudiciais, como o extremismo religioso. É importante que a espiritualidade seja abordada de forma individualizada, considerando as suas possíveis influências positivas e negativas na saúde mental.
Em conclusão, a espiritualidade pode ser uma importante dimensão da saúde mental, oferecendo suporte social, significado e estratégias de coping positivas, mas também é preciso se atentar para possíveis efeitos negativos. Vários estudos têm mostrado que a religiosidade e a espiritualidade podem ter um efeito protetor em relação ao suicídio, reduzindo as taxas de tentativas e pensamentos suicidas em diferentes populações. No entanto, é importante destacar que a espiritualidade não é uma solução única para os problemas de saúde mental, sendo sempre necessária a busca por tratamento com um profissional qualificado da área de saúde mental.
Por Marcus Renato Castro Ribeiro
Referências:
Koenig, H. G., et al. (2012). Religious involvement and attempted and completed suicide in a Mexican American sample. Journal of Nervous and Mental Disease, 200(12), 998-1003.
Lucchetti, G., et al. (2012). Spirituality, religion and health: over the last 15 years of field research (1996-2011). International Journal of Psychiatry in Medicine, 43(3), 207-223.
Niu, G., et al. (2020). Association between religiosity/spirituality and suicidal behaviors in a Chinese population. Psychiatry Research, 293, 113419.
Peltzer, K., et al. (2018). Religious/Spiritual Involvement, Quality of Life, and Depression in HIV-Positive People in South Africa. Journal of Religion and Health, 57(5), 1875-1889.
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